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Cultura e biodiversidade: Paraty e Ilha Grande agora são patrimônio da humanidade

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) decidiu no último dia 05/07, inscrever Paraty e Ilha Grande, no sul do Estado do Rio de Janeiro, como patrimônio mundial da humanidade. A área de abrangência do novo patrimônio brasileiro envolve porções territoriais de seis municípios dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, sendo que a maior parte da área núcleo está em Paraty e Angra dos Reis. No Estado de São Paulo há porções em Ubatuba, Cunha, São José do Barreiro e Areias. Além do centro histórico de Paraty, a região engloba o Parque Nacional da Serra da Bocaina, o Parque Estadual da Ilha Grande, a Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul, a Área de Proteção Ambiental de Cairuçu e o Morro da Vila Velha, com um total de quase 150 mil hectares de mata nativa. 

 

Foto: Pinterest

Hoje, 1.092 lugares do mundo o título de patrimônio mundial da humanidade. Deles, 21 estão no Brasil. A região de Paraty, passa a ser a número 22 da lista, com a peculiariedade de se tratar do primeiro sítio de patrimônio misto do Brasil, ou seja, que inclui bens culturais e naturais. Do total de patrimônios mundiais, apenas 39 locais, em 31 países, são sítios mistos.

 

O dossiê apresentado na 43ª sessão do Comitê do Patrimônio Mundial em Baku, no Azerbaijão, foi aceito graças ao incremento de uma palavra-chave em relação à tentativa anterior: biodiversidade. A cidade já havia concorrido ao título de patrimônio mundial antes, em 2009, sem sucesso. Existia uma resistência grande do Comitê a novas entradas de cidades coloniais, porque há muitas dessas na lista da Unesco”, afirmou recentemente à Folha de S.Paulo a presidente do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), Kátia Bogéa. A nova postulação foi feita, agora, apresentando não apenas a cidade colonial, mas um lugar de natureza exuberante excepcional, o que foi decisivo para a decisão da UNESCO.

 

CRITÉRIOS

Para se tornar um sítio do Patrimônio Mundial da Humanidade, o(s) país(es) que propõe(m) a candidatura deve(m) elaborar um documento que expresse características do local que atendam a um ou mais critérios estabelecidos no Guia Operacional para a Implementação da Convenção do Patrimônio Mundial. Além de votar a inclusão ou não de um sítio, o Comitê do Patrimônio Mundial vota também se o sítio se encaixa em cada um dos critérios propostos na candidatura.

 

Os critérios reconhecidos pelo Comitê que levaram à inserção do sítio Paraty: cultura e biodiversidade na Lista do Patrimônio Mundial foram:

 

Critério V — Ser um excelente exemplo de assentamento humano tradicional, uso da terra ou uso do mar que é representativo de uma cultura (ou culturas) ou interação humana com o meio ambiente, especialmente quando ele se torna vulnerável devido ao impacto de mudanças irreversíveis.

Segundo a candidatura, o quinto critério é observado fortemente no sítio, pois grupos humanos, em diferentes momentos históricos de Paraty, viveram ao lado da paisagem exuberante e exploraram os recursos naturais, terrestres e aquáticos, formando uma interação entre a cultura e a natureza. As comunidades tradicionais de Paraty baseiam suas atividades na utilização da terra e do mar, sendo a pesca artesanal uma atividade intensa, especialmente nas comunidades caiçara e em torno do centro histórico. Ainda nos dias de hoje, paralelamente aos processos de pesca com embarcações modernas e motorizadas, existem práticas e instrumentos tradicionais herdados das culturas indígena, africana e europeia, que são utilizados pelas comunidades tradicionais.

Critério X – Conter os habitats naturais importantes e significativos para a conservação in situ da diversidade biológica, incluindo aqueles que possuem espécies ameaçadas de valor universal do ponto de vista científico ou de conservação.

O sítio misto está localizado em um dos centros endêmicos da Mata Atlântica e representa uma das áreas de maior diversidade biológica para este local. A biodiversidade acentuada reconhecida nesta área deve-se a fatores históricos e evolutivos associados a fatores geográficos, que criaram uma diversidade única de paisagens com um conjunto de altas montanhas e forte variação altitudinal, onde seus ecossistemas ocupam áreas desde o nível do mar até cerca de 2 mil metros de altura. Esta seção da Mata Atlântica representa a maior riqueza de endemismo para plantas vasculares ao longo deste local e também apresenta 57% do total de aves endêmicas da região, o maior percentual encontrado entre as áreas mais importantes para a conservação de aves identificadas na Mata Atlântica.

 

Paraty foi fundada em 1667 e é considerada uma das cidades mais importantes do período colonial, por estar na rota de escoamento do ouro minerado em Minas Gerais. O conjunto arquitetônico da cidade foi tombado pelo Iphan em 1958. Já Ilha Grande é a maior ilha do estado do Rio de Janeiro e a sexta maior ilha marítima do Brasil. Foi palco de várias batalhas marítimas na época da colonização e abrigou, no século XX, presídio para presos políticos. Entre eles, Graciliano Ramos, onde escreveu “Memórias do Cárcere”.

 

Levantamento do Iphan aponta que há, no local, 36 espécies vegetais consideradas raras, numa região de Mata Atlântica com forte presença de aves e sapos e pererecas, além de registros de mamíferos como a onça-pintada e o muriqui, maior primata do continente americano. Há, também, duas terras indígenas, dois territórios quilombolas e 28 comunidades caiçaras. Os primeiros registros de povoamentos datam de 4 mil anos, diz o órgão.

 

ALERTA E COMEMORAÇÕES

Segundo o arquiteto e urbanista Carlos Fernando Andrade, conselheiro federal do CAU/BR pelo Rio de Janeiro, especialista em patrimônio cultural, “uma das condições que a UNESCO determina para a consideração de um patrimônio da humanidade é exatamente o nível de proteção que aquele bem vem recebendo do país que apresenta a candidatura. Ou seja,  o principal responsável pela preservação de Paraty e região não é a UNESCO, é o Brasil, pois se trata de um bem nacional”.

 

“Esse esse ponto de vista é muito importante, principalmente para a Ilha Grande, que vem sofrendo um processo grande de antropismo, ou seja, de ações dos seres humanos, seja do ponto de vista do crescimento urbano ou de outras formas de apropriação do meio-ambiente. E de Paraty também, que além de tratar da questão história tem essa questão ambiental e paisagística. O IPHAN,  quando eu fui superintendente regional no Rio, fez uma portaria porque Paraty tem uma categoria de tombamento muito interessante: o município inteiro é tombado, não só o centro histórico. Então nós tínhamos que fazer uma portaria que considerasse os aspectos territoriais e urbanísticos além do óbvio compromisso com a preservação histórica”.

 

Para o arquiteto e urbanista Jeferson Salazar, presidente do CAU/RJ, trata-se de “uma ótima notícia para o Rio de Janeiro, para o país, para a humanidade. Esperamos que esse título contribua para preservar o patrimônio cultural, imaterial e natural de Paraty e dos demais municípios, e proteger as comunidades que habitam esses locais. O Rio de Janeiro já possui o título de paisagem natural e o Cais do Valongo como patrimônios, é a capital mundial da arquitetura. Esse é o momento de reunirmos esforços para investir mais na valorização e conservação de nossos patrimônios”. 

 

Conforme o jornal O Globo, “unindo os destaques culturais e ambientais em um só planejamento, que agora promoverá um plano de integração entre os dois setores, Paraty realiza um feito inédito na América Latina. O lugar é o primeiro sítio misto da região onde se encontra uma cultura viva. Todos os demais sítios mistos do continente, como Machu Picchu, no Peru, são sítios arqueológicos em uma paisagem natural”.

 

“Nós, orgulhosamente, voltamos para casa com esse título na bagagem. Em Paraty e Ilha Grande, uma área com diversas reservas ecológicas, vemos de maneira excepcional e única uma conjunção de beleza natural, biodiversidade ímpar, manifestações culturais um fabuloso conjunto histórico, e importantes testemunhos arqueológicos para a compreensão da evolução da Humanidade no planeta Terra”, comemora Kátia Bogéa.

 

“A Representação da UNESCO no Brasil celebra a inscrição do novo sítio brasileiro na Lista do Patrimônio Mundial. Paraty já é integrante da Rede de Cidades Criativas da UNESCO na categoria gastronomia e, agora, mostra a riqueza da diversidade local se tornando patrimônio mundial misto, ou seja, tanto cultural quanto natural. Formada pelo intercâmbio das culturas indígena, africana e caiçara que se expressam nos bens culturais da cidade, Paraty engloba uma fusão de características próprias do patrimônio material e do imaterial. Ao mesmo tempo, a cidade apresenta exemplos de povos tradicionais que usam a terra e o mar de forma sustentável, demostrando a interação do homem com o meio ambiente. Ao se unir à Ilha Grande, o sítio torna-se ainda mais representativo com áreas de beleza natural excepcional”, comemora a diretora e representante da UNESCO no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto.

 

O prefeito de Paraty, Valceni Teixeira, também comentou o título concedido à cidade: “Receber hoje o título de Patrimônio da Humanidade da Unesco é a demonstração de que construímos algo importante em relação à conservação da nossa história e biodiversidade. Buscamos este título há muitos anos e apenas agora foi possível. Este é um momento único e especialmente importante para todos os moradores de Paraty”. 

 

Foto: Marco Yamin / Divulgação

 

CONHEÇA O SÍTIO MISTO

Eis um breve descritivo do sítio misto segundo o IPHAN:

 

Serra da Bocaina: ali se pode percorrer parte do Caminho do Ouro, observar a rica biodiversidade e apreciar a vista da baía da Ilha Grande a partir da Pedra da Macela;

 

Parque Estadual da Ilha Grande: encontra-se uma variedade de oficinas líticas, vestígios de indígenas pré-históricos, que usavam rochas para polir e afiar seus instrumentos de pedra;

 

Reserva Biológica da Praia do Sul: tem sua paisagem marcada pela tradicional canoa caiçara e praias bem preservadas;

 

Área de Proteção Ambiental de Cairuçu: tem como principais atrativos praias e ilhas, o Saco do Mamanguá, cultura caiçara quilombola e indígena, além do sítio histórico de Paraty-Mirim;

 

Centro Histórico de Paraty: palco de muitos festejos tradicionais, como a Festa do Divino Espírito Santo;

 

Morro da Vila Velha: onde fica o forte e Museu do Defensor Perpétuo

 

OUTROS PATRIMÔNIOS MUNDIAIS DO BRASIL 

Entre os 21 conjuntos históricos e sítios naturais do Brasil considerados patrimõnio mundial da humanidade estão: 

 

Patrimônio cultural 

  • Cidade Histórica de Ouro Preto (MG)
  • Centro Histórico de Olinda (PE)
  • Centro Histórico de Salvador (BA)
  • Plano Piloto de Brasília (DF)
  • Parque Nacional da Serra da Capivara (PI)
  • Paisagens do Rio de Janeiro
  • Conjunto Moderno da Pampulha (MG)

 

Patrimônio natural 

  • Parque Nacional do Iguaçu (PR)
  • Costa do Descobrimento (BA e ES)
  • Áreas Protegidas da Amazônia Central
  • Áreas Protegidas do Pantanal (MT e MS)

 

Fontes: Agência Brasil, O Globo,  Folha de S.Paulo, CAU/RJ e CAU/MA

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